Caminhoneiros Surdos do Brasil: inclusão e luta por direitos
Caminhoneiros Surdos do Brasil: inclusão e luta por direitos
A inclusão de pessoas surdas no mercado de trabalho ainda é um desafio em muitos setores.

Integrandes do movimento Caminhoneiros Surdos do Brasil
No entanto, um projeto inovador vem mudando essa realidade no transporte rodoviário brasileiro. Raquel Moreno, idealizadora do Caminhoneiros Surdos do Brasil (CSB), compartilhou em entrevista detalhes sobre a luta e as conquistas da entidade.
O CSB atua em duas frentes principais. A primeira é a batalha legislativa: “Estamos lutando no Senado por um projeto de lei que permita que qualquer surdo, independente da sua característica auditiva, consiga a carteira de motorista profissional”, explica Raquel. Atualmente, a legislação exige que o surdo tenha até 40 decibéis de audição e use aparelho auditivo, além de passar por todos os exames exigidos para ouvintes. “Se o surdo passar nesses exames, ele pode conseguir a CNH categoria profissional C, D e E”, afirma.
Apesar dos avanços, a inclusão no mercado de trabalho ainda é limitada. “São mais de 150 motoristas surdos habilitados hoje, mas poucos estão inseridos nas empresas por conta da comunicação”, relata Raquel. Muitas transportadoras ainda têm dúvidas sobre como integrar profissionais surdos em suas equipes, especialmente quando não há outros colaboradores que dominem a Língua Brasileira de Sinais (Libras).
No entanto, exemplos de sucesso já existem. Raquel cita a Rodopiro, transportadora de Sorocaba, que emprega Murilo Souza, motorista surdo profundo, há mais de um ano. “A Rodopiro acreditou nele, e hoje ele dirige caminhão prancha com grandes cargas”, conta. Outro caso é o de Daniel, caminhoneiro surdo de Santa Catarina, que faz viagens semanais transportando melado entre estados, utilizando mímica e escrita para se comunicar em situações como blitz policial.
A comunicação escrita é um dos principais desafios“A maioria dos surdos não sabe o português escrito, ou escreve de forma adaptada, seguindo a gramática da Libras”, explica Raquel. Isso gera preconceito e dificuldades na hora de enviar currículos ou se comunicar com empresas. “O RH muitas vezes acha que o candidato está bêbado por causa da escrita diferente”, lamenta.
Além da luta por direitos, Raquel também atua na conscientização das empresas sobre diversidade e inclusão. Ela mesma é surda profunda e utiliza implante coclear para ouvir. “Meu papel é de fala. Eu sinalizo e falo. Vou às empresas para mostrar como incluir um caminhoneiro surdo”, diz.
Raquel destaca ainda a importância de evitar termos como “mudo” ao se referir a pessoas surdas. “Todos eles têm voz. O mudo é quem tem problema na corda vocal. Eles se identificam culturalmente como surdos e são sinalizados”, esclarece.
Os Caminhoneiros Surdos do Brasil (CSB) nasceram do desejo de mudar a realidade dos surdos no setor de transportes. As articulações do movimento surgiram em novembro de 2020, com a união de surdos de diferentes regiões do Brasil para debater os desafios enfrentados na obtenção da CNH e no mercado de trabalho.
O primeiro grande passo foi dado em uma reunião com o deputado estadual Alex Madureira (PL/SP), onde as bases do projeto começaram a ser estruturadas. Em 2 de agosto de 2021, o senador Romário (PL/RJ), atendendo ao pedido do grupo, apresentou o PL 2634/21, que propõe uma alteração do Código de Trânsito Brasileiro para permitir a concessão de habilitação em todas as categorias para surdos e pessoas com deficiência auditiva.
Desde então, o CSB cresceu e conquistou reconhecimento nacional, contando com o apoio de mais de 40 associações de surdos, movimentos de apoio em diversas Câmaras Municipais e o incentivo de empresas e pessoas que acreditam na capacidade dos surdos.
“Sabemos que ainda há desafios, como a falta de acessibilidade no trânsito e nos processos de obtenção e renovação da CNH. Por isso, seguimos mobilizados, dialogando com governantes e sociedade para garantir um futuro mais inclusivo”, afirma Raquel.
O CSB mantém um site com informações e exemplos de inclusão: www.csboficial.com.br. Raquel reforça que está aberta ao diálogo e à troca de informações para ampliar a participação dos surdos no transporte brasileiro.
A reportagem mostra que, apesar dos obstáculos, a inclusão dos caminhoneiros surdos é possível e traz benefícios para o setor, ajudando a suprir a escassez de profissionais e promovendo diversidade nas estradas do Brasil.
* Marcos Villela Hochreiter é jornalista especializado em logística e transportes e diretor do site Frota News.
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