Portal O Debate
Grupo WhatsApp

A velhinha de Itajaí

A velhinha de Itajaí

10/03/2009 Luciano Pires

Quem será que cria aquelas propagandas de lojas de varejo que infestam a televisão?

Aquelas coisas tipo Casas Bahia, Lojas Marabras, Lojas Mariza e outras que ocupam um espaço publicitário gigantesco com tanto mau gosto? É sempre a mesma coisa: um sujeito pretensamente simpático ou um casal jovem e risonho falando alto e rápido sobre as maravilhas daquele jogo de sofá que só amanhã você pode comprar em cento e trinta e duas parcelas de oito reais e oitenta centavos... Busquei na memória e vi que sempre foi assim. Os mais antigos lembrarão da quinzena de tapetes do Mappin. Dos ternos da Ducal. Das Lojas Brasil, onde "você leva o Brasilino de presente"... (Aliás, há anos tento encontrar um boneco do Brasilino pra comprar e não acho. Você sabe onde tem?)

Pois no final de 2008 durante um telejornal assisti chocado às imagens das inundações em Santa Catarina. Uma tragédia imensa e - como a maioria das tragédias brasileiras - previsível. Pessoas perdendo parentes, perdendo casas, perdendo tudo... Uma das cenas, em Itajaí, mostrava uma velhinha voltando para casa e vendo seus móveis, televisão, geladeira, tudo destruído. A expressão daquela senhora tinha a dor da desesperança que só as tragédias conseguem forjar. Doeu em mim. A última imagem mostrou-a desolada, olhando seu jogo de sofás, que ela dizia que tinha acabado de comprar, coberto de barro. Destruído. Pausa para o comercial. Casas Bahia. Um sujeito histriônico, de paletó vermelho, cabelo e sobrancelhas pintadas, rosto de plástico, falando alto, quase perdendo o fôlego e mostrando as ofertas imperdíveis enquanto ao fundo uma horda de consumidores fingia comprar tudo que podia.

Entre as ofertas imperdíveis, um conjunto de sofás parecido com o da velhinha de Itajaí... Em seguida vem o anúncio do automóvel que eu tenho que comprar. E depois do celular que vai resolver todos os meus problemas. Então vem aquele banco que é o melhor lugar do mundo. Todos repletos de mulheres maravilhosas, homens jovens e sorridentes, crianças inteligentes e velhinhos pensando que têm trinta anos de idade. Uma maravilha. Volta o noticiário. Gente morrendo na troca de tiros durante a invasão do morro no Rio de Janeiro. E agora ao vivo a repórter trazendo as últimas da inundação. Dó... Num instante estou no mundo real, entre tragédias e tiroteios, dor e sofrimento, refletindo sobre como tenho sorte em ser quem sou, morar onde moro e trabalhar onde trabalho.

No instante seguinte sou jogado para outro mundo, onde passo a refletir sobre como é pouco o que tenho, como eu poderia ser melhor se comprasse aquela roupa, aquele carro, aquele celular. Então outra vez o mundo perigoso. E depois o mundo do glamour... E assim vai. Viajo sem parar entre dois mundos antagônicos, um renegando o outro. Vou dormir com a mente confusa. Não sei qual dos dois mundos venceu o "round" de hoje. E amanhã de manhã vai começar tudo outra vez: a velhinha perdendo o sofá e o moço vendendo um sofá. Aqueles dois mundos antagônicos são representações do mundo real. Cada uma com um ponto de vista, um filtro, uma lente.

O mundo dos noticiários quer nossa atenção, nos segurar até a chegada do mundo dos comerciais, que pretende que compremos! E os editores usarão de todos os recursos de drama, imagens, sons e edição para nos conquistar... No vaivém entre os dois mundos estão nossas escolhas. O que fazer com os estímulos que recebemos de cada um deles? Provavelmente arregalar os olhos diante das tragédias e voltar ao trabalho pra poder ir às compras. É essa a rotina de nossas vidas, não é? Mas tudo bem... Quem sabe alguém decide comprar nas Casas Bahia um sofá novo pra velhinha de Itajaí.

*Luciano Pires é jornalista, escritor, conferencista e cartunista. Faça parte do Movimento pela Despocotização do Brasil, acesse www.lucianopires.com.br.

 



Stalking: especialistas analisam as consequências jurídicas do crime no Brasil

Com abordagem multidisciplinar, juristas estudam o fenômeno sob recortes históricos e contextos culturais, da perseguição de celebridades à vulnerabilidade da mulher.

Autor: Divulgação


Mercado de carros elétricos avança, mas com público masculino

No Dia Internacional das Mulheres na Engenharia, especialista pontua o que é favorável e o que pode ser melhorado sobre eletrificação.

Autor: Divulgação

Mercado de carros elétricos avança, mas com público masculino

Liderança feminina na saúde e na ciência é impacto para novas gerações

Elas ocupam cargos de liderança, desafiam estereótipos e inspiram transformações profundas.

Autor: Camila Hartmann

Liderança feminina na saúde e na ciência é impacto para novas gerações

A vida vivida (de verdade) é fora do story

Pedagoga reúne vivências em sala de aula para compor romance juvenil sobre uso excessivo de redes sociais, valorização da aparência e equilíbrio entre saúde física e mental.

Autor: Divulgação


Como doar leite materno?

Médico explica a importância do aleitamento materno e o passo a passo para fazer a coleta e armazenamento corretos.

Autor: Divulgação

Como doar leite materno?

Toda mãe merece (e precisa) conciliar maternidade com bem-estar

A dedicação aos filhos é importante, mas ela precisa ser acompanhada de hábitos que auxiliem uma mãe a permanecer emocionalmente saudável.

Autor: Celso di Lascio

Toda mãe merece (e precisa) conciliar maternidade com bem-estar

Livro aborda os desafios para as mulheres na área de tecnologia

A promoção da diversidade e da inclusão ainda é um grande desafio na área de tecnologia.

Autor: Divulgação

Livro aborda os desafios para as mulheres na área de tecnologia

MRV promove qualificação para mulheres atuarem na construção civil

A iniciativa faz parte do projeto ‘Elas Transformam a Construção’ e conta com o apoio do Alicerce Educação e do Instituto da Quebrada.

Autor: Divulgação


O dom da maternidade

Maternidade é uma palavra doce que exala o perfume do amor, mas que também traz impregnado nessa doce missão outros atributos como entrega, doação e santidade.

Autor: Rogéria Moreira

O dom da maternidade

Fabet abre inscrições para curso de formação de motoristas mulheres no transporte de cargas

A Fabet São Paulo está com inscrições abertas para a próxima turma de Formação de Mulheres para o Transporte de Cargas.

Autor: Marcos Villela Hochreiter

Fabet abre inscrições para curso de formação de motoristas mulheres no transporte de cargas

Só podia ser mulher…

Levanta a mão a mulher que nunca ouviu essa frase. Bem, não aconselho esperar muito para ver essa tal mão surgir estendida, muito menos se você estiver de pé.

Autor: Jéssica Chagas Lydes

Só podia ser mulher…

Seja mais otimista

Você sabia que ser otimista pode influenciar positivamente no seu desempenho? Algumas pesquisas já comprovaram isso.

Autor: Juliana Brito

Seja mais otimista