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Presidenciáveis em busca da emoção perdida

Presidenciáveis em busca da emoção perdida

11/08/2010 Helder Caldeira

O Brasil começou a escrever mais uma página de sua história política no último dia 05 de agosto com o primeiro debate na TV dos candidatos à Presidência da República nas eleições de 2010.

O governador José Serra (PSDB), a ex-ministra Dilma Rousseff (PT), a senadora Marina Silva (PV) e o professor Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) protagonizaram, na Rede Bandeirantes, o mais raso dentre os embates televisivos entre presidenciáveis e evidenciaram suas maiores fragilidades nas quase três horas em que “pseudoconfrontaram-se” diante de milhões de telespectadores e internautas. Cometeram o maior de todos os equívocos: tentar buscar e transmitir emoções que, notada e reconhecidamente, nenhum dos quatro tem o hábito de demonstrar. E o pior: ao que tudo indica, esse equívoco dará o tom da campanha eleitoral.

Esse primeiro debate foi tão insípido que não há sequer a possibilidade de conjecturar sobre um melhor ou um pior desempenho. Não que os brasileiros estejam esperando candidatos digladiando-se em um ringue como acontecia com Franco Montoro e Jânio Quadros ou Paulo Maluf e Leonel Brizola, mas espera-se um mínimo de colisão entre presidenciáveis de universos tão díspares. No dia seguinte, um importante jornal brasileiro trazia a seguinte legenda: “Serra atacou Dilma; Dilma atacou os tempos de Fernando Henrique Cardoso; Plínio atacou todos; e Marina não atacou ninguém”. Se Raimundo tivesse morrido e Lili se casado com J. Pinto Fernandes, a manchete bem poderia ser uma licença poética para os antológicos versos de Carlos Drummond de Andrade.

Verdade é que devemos considerar o fato de que a presença de duas mulheres como presidenciáveis  torna o confronto menos duro e mais ameno. A verde Marina, apesar de suas importantes e fortes lutas ambientais, sempre apresentou-se de forma bastante sensível; e a petista Dilma, sempre vista como uma mulher firme e até mesmo arrogante, foi transformada pelos marketeiros e por alguns “retoques” em uma jovem  e “quase-bela” senhora, não menos poderosa. Mulheres na disputa pela presidência não são uma novidade, mas esse perfil sim. Por mais que às vezes tentasse, em outros tempos Heloísa Helena não furtou-se a provocar um implacável combate, sempre com dedo em riste. Hoje, as duas candidatas estão percorrendo caminhos mais sensíveis e menos espinhosos, o que não significa torná-las melhores ou mais preparadas. Muito pelo contrário: incorrem no mesmo erro de querer falsear personalidades em uma bem apresentada maquiagem.

Como se esperava, assim como nas pesquisas eleitorais, o debate ficou polarizado entre José Serra e Dilma Rousseff. Serra, mais escolado, mostrou-se muito cuidadoso com os pequenos detalhes do marketing político eleitoral e, mesmo confessando ter recebido uma reprimenda ao vivo da filha por estar muito sisudo e sorrindo pouco, permitiu-se um tom mais jocoso em provocações contra sua principal adversária e com o socialista Plínio, de quem é antigo conhecido. Acertou grande ao evitar ser generalista e citar nominalmente os alvos de suas propostas quando buscava exemplos práticos para suas respostas, como quando comentou o fato das estradas que levam à cidade mineira de Governador Valadares ou que chegam ao Vale do Itajaí, em Santa Catarina, estarem em péssimo estado de conservação. Essas informações objetivas alcançam o eleitor muito mais que quaisquer números e Serra sabe disso. Sabiamente, apesar da sedutora tentação, não perdeu tempo com defesas vazias ao governo do correligionário FHC e nem com ataques desmedidos à bem-sucedida gestão de Lula. Criticou o que merecia destaque e foi anuente com que são considerados acertos. Bem longe da autoridade que lhe é peculiar, derrapou ao dar foco extremo à Saúde e capotou ao buscar emotividade, quase chorando, ao lembrar-se da importância e do trabalho de seu pai.

Já Dilma deixou muito evidente o grande nervosismo em seu primeiro debate na TV, principalmente no bloco inicial, quando não sabia pra onde deveria olhar, gaguejou e, desatenta ao rigoroso e curto tempo para resposta, perdeu-se em números que, de fato, não chegam ao eleitor nesses momentos. Nos blocos seguintes conseguiu se reerguer e chegou ao ponto aproveitar-se ao perceber que Serra não ouvira claramente sua pergunta, insinuando que ele desconhecia o “Luz para Todos”, o mais importante programa de eletrificação implementado pelo governo Lula. Encarnou e fez lembrar o ex-presidenciável Anthony Garotinho, em 2002, quando em um dos debates televisivos, criou uma armadilha para o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva, questionando-o sobre detalhes da CIDE, imposto chamado de contribuição que incide sobre os combustíveis. Lula não sabia do que se tratava, foi genérico na resposta e o assunto, até hoje, é um escárnio. Mas Dilma também derrapou e capotou ao tentar demonstrar uma falsa emoção por fazer parte do atual governo e por ter sido escolhida por Lula para candidatar-se à sucessão. Debates eleitorais deveriam ser disputas programáticas e não chorosos resumos biográficos. Quanto ao eleitor brasileiro gostar dessa dramatização mexicana, isso sim é uma outra seara.

Nas outras bancadas, Marina e Plínio atuaram como coadjuvantes de luxo em um filme ruim. A senadora reforçou sua angustiante imagem de “peixe-morto” e foi politicamente correta até na distribuição de suas perguntas aos candidatos. Tragicômica e tentando provocar uma emoção desnecessária, usou o precioso tempo de suas considerações finais para ler um poemeto sobre um menino chamado Dado, morador de uma comunidade pobre do Recife e que chama a candidata de “Tia”. Apagou-se, por fim. Em contraponto, o socialista Plínio de Arruda Sampaio foi o deboche em pessoa durante do debate. Falou sério e também fez rir. Com a inteligência peculiar a sua respeitável trajetória octogenária, errou o tom ao tentar criar armadilhas pueris e criticar tudo e todos, provocando emoções distorcidas nos espectadores com suas falas que soavam mais como questionamentos persecutórios do que como chamamentos à razão e ao que parecia óbvio: a polarização do debate entre Serra e Dilma. Desferiu golpes até em uma apagada Marina, ao falar sobre suas propostas de Reforma Agrária e no divertido comentário sobre ela “não saber pedir demissão”. Isolado, só se reconheceu em um debate de presidenciáveis quando foi fuzilado com a pergunta de um jornalista da Band sobre sua proposta de dar calote na dívida brasileira. No fim das contas, Plínio roubou a cena e merece o prêmio Framboesa de Ouro de melhor ator coadjuvante.

A moral da história desse primeiro debate televisivo é que o grande derrotado é o eleitor brasileiro. Nenhum dos candidatos à Presidência da República ousou se aprofundar em temas relevantes, quiçá em polêmicas. Foram rasos na apresentação do conteúdo programático de suas campanhas e, à exceção de José Serra, não conseguiram discorrer com clareza e objetividade sobre os poucos temas abordados. Resta-nos a esperança que os próximos debates, um importante e caro tempo de TV, sejam melhor aproveitados pelos presidenciáveis e que eles não sejam enterrados em uma equivocada busca por emoções perdidas. O Brasil espera mais de vocês, senhoras e senhores candidatos!

* Helder Caldeira - Articulista Político, Palestrante e Conferencista



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