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Caminhões a gás: o que há no mundo e o que pode chegar ao Brasil

Caminhões a gás: o que há no mundo e o que pode chegar ao Brasil

04/06/2025 Marcos Villela Hochreiter

Os caminhões movidos a gás já são realidade em muitas frotas brasileiras.

Caminhões a gás: o que há no mundo e o que pode chegar ao Brasil

Linha Volvo a gás; Scania GNL e Iveco S-Way GNC

 

Os caminhões a gás já são realidade no Brasil, ganham força como alternativa sustentável ao diesel e ajudam a reduzir os lixões das cidades. Nesta reportagem, analisamos os portfólios globais de montadoras como Scania, Iveco, Volvo e Volkswagen para prever quais modelos a gás podem chegar ao mercado nacional nos próximos anos.

Os caminhões movidos a gás já são realidade em muitas frotas brasileiras. Por enquanto, a principal fornecedora no país é a Scania, que iniciou o desenvolvimento dessa tecnologia em 2017 e realizou o lançamento oficial durante a Fenatran de 2019. A Iveco seguiu o mesmo caminho e apresentou dois modelos na Fenatran de 2024. 

Com exceção da Volkswagen Caminhões e Ônibus — que, embora tenha origem brasileira, faz parte de um grupo europeu — e da Agrale, única fabricante 100% nacional, as demais montadoras atuam como subsidiárias de grandes conglomerados internacionais. Isso significa que dificilmente veremos um caminhão a gás desenvolvido do zero no Brasil. A tendência é a tropicalização de modelos já disponíveis nos portfólios globais dessas marcas.

Diante desse cenário, para entender o que o mercado brasileiro poderá receber nos próximos anos, é necessário olhar para fora: quais modelos a gás já rodam em outros países? E quais têm maior potencial de adaptação para o Brasil? 

Nos próximos parágrafos, exploramos o portfólio global das principais montadoras que atuam no Brasil — como Scania, Iveco, Volvo, Mercedes-Benz, DAF e outras — para traçar um panorama do que pode chegar às estradas brasileiras. Afinal, o futuro da mobilidade de cargas no país está sendo desenhado agora — e uma parcela significativa dessa frota poderá ser movida a gás. 

Entendendo os conceitos: ciclo Otto, GNV e biometano

Quase todos os motores a gás modernos utilizam o ciclo Otto, o mesmo presente nos motores a gasolina. Isso proporciona um funcionamento mais silencioso em comparação com os motores a diesel, que operam em ciclo diferente. 

Assim como os motores flex (gasolina e etanol), os caminhões a gás podem rodar com GNV (gás natural veicular, de origem fóssil) e/ou biometano, combustível renovável produzido a partir da digestão de resíduos orgânicos — como dejetos animais, lixo urbano ou efluentes agroindustriais. 

Além disso, os motores a gás oferecem desempenho semelhante ao diesel, tanto em potência quanto em torque. E mais: atendem de forma ainda mais eficiente às normas ambientais mais rígidas, como a Euro 6 e o Proconve P8, em vigor no Brasil. 

Atenção: se alguma marca divulgar essas características como um “grande diferencial exclusivo”, trata-se apenas de uma estratégia de marketing. Esses atributos são comuns a toda a tecnologia atual de motores a gás. 

Scania: pioneirismo e liderança

A Scania é pioneira no segmento e, até agora, a única com portfólio global consolidado em caminhões a gás. Tanto na Europa quanto no Brasil, a montadora sueca oferece dois motores com múltiplas faixas de potência. 

Esses motores foram desenvolvidos exclusivamente para combustíveis gasosos, e não são adaptações de propulsores a diesel. Utilizam o ciclo Otto com ignição por vela, o que garante operação silenciosa, baixas emissões e confiabilidade para diversas aplicações. 

Opções de potência e torque: 

-9 litros - 280 cv | 1.350 Nm 

- 9 litros - 340 cv | 1.600 Nm 

- 13 litros - 410 cv | 2.000 Nm 

- 13 litros - 460 cv | 2.300 Nm (lançado na última Fenatran) 

Tanques e autonomia: 

GNV (comprimido): até 300 m³ de gás armazenado em cilindros laterais. A autonomia pode chegar a 500 km com GNV e ser ainda maior com biometano de alta pureza. 

Há ainda o “mochilão”, cilindros adicionais colocados atrás da cabine. Na Argentina, são até quatro cilindros, com alcance de até 900 km. No Brasil, foi lançada a versão com dois cilindros extras, que garante autonomia de até 650 km. 

GNL (liquefeito): ideal para operações de longa distância. A Scania promete até 1.200 km de autonomia no Brasil, podendo chegar a 1.800 km na Europa, segundo informações no site da marca. 

Iveco: liderança europeia e expansão no Brasil

A Iveco é a fabricante mais avançada da Europa no segmento de caminhões a gás. Seu portfólio vai da linha leve Daily até os pesados S-Way e X-Way, este último voltado ao uso misto (rodoviário e fora de estrada). 

Os motores são desenvolvidos pela FPT Industrial, empresa do mesmo grupo industrial. 

Gama europeia: 

- Daily CNG: motor 3.0 litros, 136 cv, 350 Nm 

- Eurocargo CNG: motor 6.7 litros com três opções: 

- 220 cv | 800 Nm 

- 250 cv | 850 Nm 

- 280 cv | 1.000 Nm (versão escolhida para o Brasil) 

Para o mercado brasileiro, a Iveco optou pelo modelo elétrico eDaily, apostando que a logística urbana adotará veículos elétricos em vez dos a gás. 

Linha pesada: 

- S-Way: 

- Europa — motor FPT Cursor XC13 de 500 cv | 2.200 Nm 

- Brasil — mesma base, com 460 cv | 2.000 Nm 

- X-Way (Europa): motor de 500 cv, voltado ao uso misto 

 Volvo: duas estratégias com motores diferentes

A Volvo adota duas tecnologias distintas: o motor de 13 litros com ciclo diesel, utilizado nos modelos FH Aero, FH e FM (com adição de HVO — diesel verde); e o motor ciclo Otto, utilizado no FE. 

Pesados (FH Aero, FH, FM): 

- Motor 13 litros, com GNV ou biometano + HVO 

- Potências: 420 cv, 460 cv e 500 cv 

- Torque de até 2.500 Nm 

- Tanques: apenas GNL 

Modelo regional (FE): 

- Motor ciclo Otto de 320 cv e 1.356 Nm 

- Tanques: gás comprimido (GNV) 

A Volvo do Brasil diz que acompanha e estuda todos os movimentos do segmento de caminhões a gás, mas não há planos para o lançamento no Brasil e vai aguardar o desenvolvimento da infraestrutura de abastecimento desse tipo de veículo.  

DAF Trucks 

Embora a DAF não tenha lançado nenhum caminhão movido a gás na Europa, o grupo PACCAR, proprietário da marca, desenvolve uma parceria estratégica com a Cummins para introduzir o motor Cummins X15N de 400 cv e 500 cv que pode ser utilizado em caminhões pesado no mercado dos Estados Unidos, com as marcas Kenworth e Peterbilt. 

Mercedes-Benz 

A montadora alemã já teve caminhões a gás, mas já faz alguns anos que ela descarta a possibilidade de retornar a desenvolver novos modelos. A estratégia da Mercedes-Benz é zerar as emissões do tanque a roda, sem considerar as emissões do poço a roda ou do berço ao túmulo. Assim, ela considera o gás como uma energia transitória que ainda emite CO2. Por isso, todos os seus esforços dela têm sido no desenvolvimento de caminhões elétricos — mesmo que energia elétrica seja com combustível fóssil — para o presente e a hidrogênio para o futuro.  

No caso das outras fabricantes, o raciocínio é discordante da Mercedes-Benz. Elas consideram que o gás biometano tem um papel muito importante para o meio ambiente por fazer parte da economia circular. O que significa isso? A produção de biogás, matéria prima para o biometano, utiliza um passivo ambiental — lixões, resíduos da indústria e do agronegócio — em ativos, contribuindo para melhoria ambiental em todo o seu ciclo.  

Engenharia 100% brasileira: VWCO e Agrale

As montadoras Volkswagen Caminhões e Ônibus e Agrale têm engenharia integralmente nacional. No caso da Volkswagen, apesar de fazer parte do grupo Traton (mesmo da Scania e MAN), a marca nasceu no Brasil e mantém foco em mercados emergentes. 

A VWCO apresentou na Fenatran 2024 o Constellation 26.280 6×2 a gás, com motor Cummins ciclo Otto, 280 cv e 1.100 Nm de torque. A autonomia estimada é de até 300 km. 

Já a Agrale possui ônibus movidos a gás, mas ainda não há notícias sobre caminhões com essa tecnologia em seu portfólio. 

Vendas: gás cresce, elétricos não decolam

Diferentemente do mercado de automóveis, as vendas de veículos comerciais elétricos seguem tímidas. Segundo dados da Fenabrave, de janeiro a abril de 2025 foram emplacados apenas 119 veículos comerciais elétricos no Brasil — considerando furgões, chassis-cabine e caminhões com PBT acima de 3.500 kg. A lista inclui marcas como BYD, Volvo, JAC, Tesla (com 5 unidades da Cybertruck), Ford, Mercedes-Benz, Scania, Foton e VW Caminhões. 

Por outro lado, a Scania observa um crescimento consistente e acelerado dos caminhões a gás: mais de 200 unidades foram emplacadas apenas em 2025, superando o total de todos os comerciais elétricos juntos. Desde o fim de 2019, a Scania acumula mais de 1.700 caminhões a gás vendidos no Brasil. 

Esse dado evidencia que os frotistas estão priorizando o gás como alternativa viável e eficiente para a descarbonização do transporte de cargas. 

Marcos Villela Hochreiter é jornalista especializado em logística e transportes e diretor do site Frota News.

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